Vencedora na categoria “Humanidades”, Alessandra Stefanello detalha como o reconhecimento a ajudou a seguir da graduação para o mestrado. Inscrições para a 6ª edição estão abertas até 31 de outubro

Foto: Jardel Rodrigues/SBPC

São mais de 1.200 quilômetros que separam a cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, a São Paulo. Alessandra Stefanello percorreu este trajeto pela primeira vez em 2023, quando foi premiada na 4ª edição do Prêmio Carolina Bori “Ciência & Mulher”. Com algumas bagagens e a mãe para acompanhar, Alessandra viu as paisagens rurais do seu dia a dia serem substituídas pelo cinza paulistano e teve a prova inicial de que as suas pesquisas a levariam aonde quisesse.

“Foi uma realização. Quando eu me inscrevi, eu não imaginava ganhar, isso nem passou pela minha cabeça. Porque eu venho lá do interior do Rio Grande do Sul. Na época, eu estava no último ano da graduação, e a minha realidade era muito rural, o meu trabalho era sobre a questão da terra. Ir para São Paulo, conhecer pessoas que estão à frente da pesquisa no Brasil e que colocam isso como prioridade, grandes nomes da pesquisa brasileira, foi muito impactante”, conta.

Filha de agricultores familiares, Alessandra se formou em Letras pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e levou a sua vivência ao campo acadêmico. Na graduação, se dedicou a olhar para a história dos movimentos sociais da terra, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra), os debates legislativos do agronegócio e as representações midiáticas. Na sua pesquisa, analisou a presença do sujeito sem-terra na Lei de Terras de 1980, a primeira lei sobre propriedade privada de terras do País, e a Constituição Federal de 1988.

Por ser um tema que lhe atravessa como pessoa, Alessandra não imaginava que haveria um reconhecimento para além de sua realidade – e ele veio com o 4º Prêmio Carolina Bori, em 2023. “Eu levei minha mãe na cerimônia de premiação e foi uma experiência muito especial para ambas. Não só de nos deslocarmos e conhecermos uma realidade que a gente não conhecia, que é a de São Paulo, mas por conhecer outras meninas que vinham também de realidades muito diferentes, de vários lugares do Brasil, e com pesquisas muito diferentes. Foi muito gratificante, é um misto de emoções. Com certeza, um dos momentos mais importantes da minha vida.”

Quando soube da notícia de que havia vencido o Prêmio na categoria “Humanidades”, Alessandra havia acabado de passar no mestrado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A mudança de ares trouxe muitas dificuldades, mas foi a conquista do passado que a ajudou a seguir em frente.

“2023 foi um ano muito difícil. Sair de lá do Rio Grande do Sul, da minha realidade, e vir para Campinas, foi complicado, porque é um custo de vida muito caro. Foi um ano que eu me questionei muito se queria seguir na carreira científica, o retorno financeiro é difícil. Ter ganho o Prêmio, pela primeira vez eu tive um reconhecimento, e até mesmo um respaldo científico, me fez sentir que as coisas que eu fiz na graduação tiveram importância. Lá, eu tive algumas conversas de bastidores e ouvi outros pesquisadores: ‘olha, eu já estive no seu lugar, não é fácil, mas não desista!’”

Hoje, quase dois anos depois, Alessandra se encontra nos últimos meses do mestrado, e já tem o futuro cientificamente planejado. “A carreira acadêmica é uma carreira um pouco solitária. E foi só eu entrar em um programa de pós-graduação que eu percebi que algumas pessoas estão ali para competir com você -eu acho que essa é a pior parte. Mas mesmo com todas essas questões, incluindo a questão financeira, ganhar o Prêmio e depois ir para a Reunião Anual da SBPC em Curitiba (em julho de 223), me fizeram lembrar por que eu comecei a carreira científica e do porquê que eu quero seguir nela. Agora eu já estou prestando o doutorado, já quero emendar!”, diz, aos risos.

Com a 6ª edição do Prêmio Carolina Bori aberta e pronta para reconhecer novas meninas cientistas, Alessandra vê na premiação um reconhecimento e uma reparação social necessária.

“Eu acho que vale muito a pena se inscrever, porque para além do Prêmio em si, a SBPC reconhece todas as meninas que estão trilhando o caminho científico. O Prêmio é para isso. Ele tem muitas ganhadoras, mas tem muitas menções honrosas também. Esse prêmio é uma oportunidade de dar visibilidade para as mulheres que fazem pesquisa no Brasil, ele abre espaço para as mulheres cientistas. E esse espaço precisa ser celebrado e, também, ocupado. Enquanto mulheres, nós precisamos reafirmar esse lugar. Que bom que a SBPC nos dá um incentivo para isso”, conclui.

Inscrições para a 6ª edição do Prêmio seguem até 31 de outubro

As indicações para a 6ª edição do Prêmio Carolina Bori “Ciência & Mulher” podem ser feitas até 31 de outubro de 2024, e são voltadas a alunas cujas pesquisas de iniciação científica demonstrem criatividade, rigor metodológico e potencial para contribuir com o futuro da ciência no país. Com seis vencedoras – três do Ensino Médio e três da Graduação –, a premiação abrange as três grandes áreas do conhecimento: Humanidades; Biológicas e Saúde; e Engenharias, Exatas e Ciências da Terra.

As interessadas devem ser indicadas por professores, orientadores, coordenadores de escola ou organizadores de olimpíadas e feiras científicas nacionais. Todas as informações sobre as regras de participação estão disponíveis no Edital do Prêmio. As indicações devem ser feitas exclusivamente pelo formulário onlinedisponível neste link, com os documentos solicitados anexados.

Para mais informações, visite o site da SBPC ou entre em contato pelo e-mail premiocarolinabori@sbpcnet.org.br.

 

Rafael Revadam – Jornal da Ciência

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